“Churrasco” e “picanha” eram códigos utilizados para venda de sentenças para beneficiar criminosos, em São Paulo, diz Polícia Federal


Em 25/06/2024

 



São Paulo — Diálogos interceptados pela Polícia Federal (PF) mostram que suspeitos de envolvimento em um suposto esquema de venda de sentenças no gabinete do desembargador Ivo de Almeida, do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), usavam expressões como “churrasco”, “carne” e “picanha” como códigos para pagamentos de propina que teriam sido feitos ao magistrado por decisões judiciais favoráveis.

O desembargador foi alvo de busca e apreensão no âmbito da Operação Churrascada, deflagrada pela PF na última quinta-feira (20/6), por ordem do ministro Og Fernandes, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que também determinou o afastamento de Ivo de Almeida (foto em destaque) de suas funções por um ano. Um pedido de prisão foi negado. A defesa do magistrado diz que aguarda acesso ao processo para “reestabelecer a verdade e a Justiça”.

As mensagens, segundo a PF, foram encontradas nos celulares dos investigados, entre eles o guarda municipal Wellington Pires, que já tinha sido alvo de uma operação em 2021, sobre supostos desvios de hospitais públicos, o advogado Luiz Pires Moraes Neto, e Valmi Lacerda Sampaio (morto em 2019), que era amigo do desembargador. Nos diálogos, Ivo de Almeida é citado nominalmente como alguém que estava “na mão” do grupo.

Segundo a PF, era Valmi quem anunciava as datas de “churrasco”, codinome usado para batizar plantões judiciários nos quais Ivo de Almeida despacharia, para que pedidos deles chegassem diretamente ao desembargador enquanto o relator natural dessas ações estivesse em folga.

Em uma das mensagens, datada de 2018, Valmi avisa a Wellington: “Vamos fazer mais um churrasco no dia 23/08”. Dias depois, Wellington diz: “Eu tô em São Roque e tem uma picanha aí para levar procê ver se vai assar ela no dia 23 ou não [sic]”. Valmi, então, pede pressa para mandar as “folhas” e “analisar rápido”. Wellington envia cópias de uma execução de pena de uma mulher condenada a 8 anos de prisão por furto mediante fraude de R$ 3 milhões.

 

 

Metropoles